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Um conto eutônico, por Patrícia Decot Pernambuco

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Resenha do capítulo presente no livro Eutonia: experiência clínica e pedagógica - Organizado por Bozon, 2013.

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Informações Extrastexto
Bozon, M.R.C. Eutonia: experiência clínica e pedagógica
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terapia, imagem corporal, pedagogia, eutonia, terapia corporal, psiquismo, depressão
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Publicado no site em
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31/12/1969
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Autoria
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Alice V. Reis

“Quando acontece o toque da Eutonia, aí esse corpo ganha volume, tridimensionalidade, pulsação, é um corpo que estava parado, frio, rígido e mole (sem tônus), você começa a sentir uma pulsação que vai, por exemplo, da ponta do pé até a raiz do cabelo, você começa a sentir isso corporalmente, isso que não estava presente há cinco minutos atrás, isso vem com um toque!”.
(Depoimento de aluna. PERNAMBUCO, 2013, p.100)


Neste conto eutônico, a eutonista Patrícia Decot Pernambuco narra o processo vivenciado por uma aluna com quem trabalhou por mais de seis anos através de atendimentos individuais em que a experiência do Toque Eutônico1 estava presente. Para tecer a reflexão que apresenta no texto, a autora pediu permissão à aluna – a quem denomina de Joana – para gravar uma série de conversas em que elas falaram de forma livre sobre o processo. A partir de trechos destas gravações e do diálogo com os escritos de Gerda Alexander e também com referenciais teóricos dos campos da filosofia e psicologia, como Jung, Bachelard, Montagu, Anzieu, Schilder, Wallon e Keleman – além, é claro, de sua própria experiência do encontro –  Patrícia nos convida a imergir no processo vivido por Joana, abrindo espaços para que possamos aprofundar o pensamento sobre a experiência eutônica e sobre os caminhos que uma pessoa passa na trajetória de “ganhar corpo”, ou então “corpar-se”, como fala Joana, inspirada na teoria de Keleman2. Este “ganhar corpo” diz respeito à possibilidade de estar presente, vivenciando as próprias estruturas corporais e suas formas de habitar o espaço, ciente de seu volume, peso, fluxos, excitabilidade; diz respeito, portanto, à possibilidade de estar em si, ao mesmo tempo que habita o mundo.
Segundo a autora, sua intenção é ilustrar “como a eutonia pode ajudar as pessoas a transformar e ressignificar seu sofrimento aprendendo a agir no corpo (si mesmo) e formando outro modo de reagir aos eventos da vida” (PERNAMBUCO, 2013).


Algo que chama atenção no texto é a riqueza de imagens que emergiram ao longo do trabalho, que se expressam tanto nos sonhos relatados por Joana, quanto em imagens vivenciadas em estados expandidos de consciência ocorridos durante as aulas, quanto na linguagem da aluna, que se aproxima de uma prosa poética. Segundo Patrícia, as imagens são uma expressão da interioridade querendo ser integrada, de forma que mergulhar nelas traz a possibilidade de integração de aspectos dessa interioridade, sendo muito importante incluí-las no processo eutônico. Essa abundância imagética também traz consigo uma potência de nos aproximar da experiência de Joana. É a partir dessa proximidade que somos convidadas/os a pensar sobre elementos importantes da prática eutônica, como as noções de Tato Consciente e do Contato Consciente e seus efeitos no corpo.


A experiência de Joana ilustra também como o trabalho com a pele permite que venham à tona memórias muito antigas – imagens e sensações que dizem respeito ao período pré-verbal. Quando essas imagens e sensações emergem, elas passam a poder ser integradas à experiência de si no mundo.
Tendo vivido uma infância difícil, em que foi exposta a situações violentas, Joana trazia no corpo as marcas dessas vivências, que se expressavam em uma frequência de um estado emocional melancólico, em estados de enrijecimento da musculatura em alguns momentos, sensações de habitar de um corpo “desmanchado” em outros. A partir de seus relatos, podemos ver como o trabalho de regulação tônica permitiu que ela vivenciasse estados de integração corporal que a possibilitaram sair desses estados de enrijecimento e desmanchamento para um estado de reconstrução do corpo. Segundo Patrícia, o trabalho com o corpo oferece um continente para que possamos reorganizar nossos padrões corporais, os quais estão intrinsecamente relacionados aos nossos estados emocionais. “Nós sempre fazemos igual, tem um caminho impresso no corpo que faz com que reajamos sempre da mesma forma. A Eutonia possibilita construir novos caminhos”. (PERNAMBUCO, 2013). Os relatos de Joana nos mostram que o trabalho eutônico permitiu que ela saísse de um estado de melancolia e mortificação, dando espaço para o desabrochar da sensação de estar realmente viva.


Eutonista formada em 2001 pela Escola Brasileira de Eutonia e residente em São Paulo. Compõe a equipe de professoras do Instituto Brasileiro de Eutonia – Formação e Pesquisa.
*Livro organizado por Márcia R. Bozon de Campos e coautores, publicado pela Zagodoni Editora – SP/ 2013

Texto elaborado pela Comissão Editorial do Site e assinado por:
Alice Vignoli Reis

1 A autora descreve este toque como “um tipo de toque específico da Eutonia em que o eutonista toca o corpo da pessoa utilizando a técnica de Contato, numa atitude de profundo respeito e principalmente de escuta dos acontecimentos do corpo através das mãos.” (PERNAMBUCO, 2013). 


2 Segundo Patrícia: “Corpar: é um termo que Stanley Keleman utiliza e se refere a idéia de experimentar o corpo em sua forma, de estar lá, presente no corpo, fazendo uma variação na intensidade das sensações corporais, principalmente utilizando a muscularidade, variando e ampliando a possibilidade de resposta aos eventos.” (PERNAMBUCO, 2013).